No livro A Roda da Vida, a Dra. Elisabeth Kübler-Ross narra uma experiência emocionante, vivenciada no pequeno vilarejo de Lucima, na Polônia, logo após a Segunda Guerra Mundial, quando atuava como voluntária, após o Serviço Voluntário Internacional para a Paz (IVSP).
Certa noite, sozinha no pequeno posto médico, totalmente despido de qualquer tipo de medicamento, Elisabeth despertou com o choramingar de uma criança pequena, um choro de desamparo e súplica. A seu lado, uma camponesa com o filho nos braços, implorava por socorro. Febril, desidratada, com bolhas em volta dos lábios e na língua, a criança estava com tifo. A "doutora" explicou que nada podia fazer, além de oferecer-lhe uma xícara de chá. A mãe implorou que Elisabeth salvasse seu último filho, o de número treze. Os demais irmãos morreram no campo de concentração, em Maidanek, onde nasceu o menino.
Elizabeth, a mãe e o menino viajaram a pé, toda noite, até o hospital mais próximo, que ficava a 30 quilômetros, em Lublin. No caminho, foram se quarteando, carregando o menino feito pluma. O hospital lotado, não aceitava mais paciente, pois havia enfermos até nos banheiros. Após muita tensão, um médico examinou a criança, avaliou que não havia esperanças, mas concordou que a mãe o deixasse ali e voltasse, após três semanas. A mãe abençoou o filho, entregou-o ao médico e voltou com a doutora, mais uma vez a pé.
A "doutora" relata que essa mãe "tornou-se a melhor assistente que já tive. Fervia minhas três preciosas seringas numa pequena tigela depois de cada uso, lavava as ataduras e pendurava-as ao sol para secar, varria o chão do posto médico, ajudava a preparar as refeições e até segurava os pacientes quando eu tinha de fazer alguma incisão durante as cirurgias. Tradutora, enfermeira e cozinheira, não havia nada que ela não fizesse" (p.70).
Certa manhã, ao acordar, a doutora percebeu que a auxiliar sumira, sem nada explicar. Uma semana depois, ao acordar encontrou no chão, próximo a sua cama, um lenço cheio de terra. Por insistência de algumas mulheres, abriu o pacote, desatou os nós, retirou a terra e encontrou um bilhete para a doutora:
"Da senhora W., cujo último dos treze filhos você salvou, um pouco de terra abençoada da Polônia" (p.71).
O menino salvou-se, pensou Elisabeth e, ao ler novamente, "terra abençoada da Polônia", entendeu o que acontecera. Aquela mãe andara a pé até o hospital em Lublin, reencontrou seu filhinho vivo, voltou ao povoado onde residia e apanhou terra do seu chão, saindo a procura de um padre para abençoá-la. Como a maioria dos padres havia sido exterminada pelos nazistas, é provável que procurasse por muito tempo. Aquela terra era especial, era abençoada por Deus! Ao se dar conta da gratidão daquela camponesa, aquele pacotinho de terra tornou-se o presente mais valioso que recebera.